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As mulheres trabalhadoras sentem na pele cada dia mais os ataques que o governo dispara em sua direção

Desde a colonização aos dias atuais lutamos pela nossa dignidade, que é constantemente violada pelo patriarcado e racismo arraigados no país. Atualmente, o governo Bolsonaro vem com seus ideais neoliberais aprofundar a miséria do povo e enriquecer cada vez mais as elites às custas de nossa dignidade.

Esse processo não começa do nada: é resultado de anos de conciliação de classes, que nos jogou migalhas enquanto enchia os bolsos dos grandes empresários, banqueiros e latifundiários, gerando imobilismo das grandes centrais sindicais, fortalecendo as elites e preparando o terreno para que o neoliberalismo descarado enfie, sem pudores, suas garras afiadas cada vez mais fundo em nossas vidas. O sustento das/os de cima é promovido através da exploração da/os de baixo, e essa realidade assola a América Latina de modo geral, produzindo a desigualdade combinada também à herança colonial.

Nos últimos anos as reformas Trabalhista e da Previdência aumentaram a exploração dos corpos das mulheres, cujo tempo de trabalho já é no mínimo dobrado em relação aos homens, além de ter que resistir às violências de gênero em casa .

A nossa rotina é custosa em todos aspectos. Sabemos que o Brasil é um dos principais países do mundo com casos de feminicídios, fora as várias violências de assédio sexual por que passamos. Nós resistimos contra os ataques de gênero, raça e classe porque vemos outras mulheres de nossa família ou do convívio social que nos fortalecem e nos motivam a marchar em direção à vida sempre mais justa de se viver.

Fazemos menção aqui a Marielle Franco, assassinada em 14 de março de 2018 denunciando os abusos da polícia militar e lutando pela dignidade da mulher negra frente ao Estado opressor e assassino.

Aliado à lógica neoliberal, o avanço do conservadorismo também nos ataca, favorecendo ainda mais o pensamento misógino e sexista. O debate do aborto não é entendido como um tema de saúde pública, e muitas mulheres seguem morrendo na necessidade de se submeter à abortos clandestinos.

Não bastasse o aumento do custo de vida desmoronando sobre nós – com aumento do preço dos alimentos, produtos para higiene, gás, aluguel e das contas de luz e água – vemos o descaso com as nossas necessidades e urgências enquanto mulheres estudantes e/ou trabalhadoras que diariamente resistem à todas as formas de opressões.

O neoliberalismo intensifica também o desmonte dos serviços públicos, como creches, saúde e educação. Não termos acesso à uma educação pública de qualidade também contribui para que tenhamos que nos submeter aos serviços mais precarizados.

Já no ensino básico é possível perceber, pela existência de renomadas escolas particulares que garantem o sucesso no vestibular, que o ensino superior é feito para os filhos de quem no mínimo pode pagar uma educação privada.

Dentro da universidade temos mais problemas: a falta de permanência estudantil. Aqueles poucos que conseguiram quebrar a barreira de sua situação financeira para ocupar espaço em uma universidade pública sendo da camada popular, tem sua existência ameaçada no curso, pois não tem os subsídios necessários para se manter sem auxílio da instituição.

Tudo isso é parte de um projeto anti-povo, que incorpora as dominações sociais para o espaço universitário, impedindo que a produção de conhecimento seja feita pelos dominados, conservando assim que essa produção continue sendo realizada através da perspectiva dos dominadores

Para a compreensão daquilo que diz respeito à hierarquia universitária podemos abordar a presença de um setor marginal presente nesse contexto. Anos antes das cotas sociais e raciais serem implementadas ou até mesmo conquistadas, mulheres pobres e mulheres negras existentes na universidade, em sua maioria, eram faxineiras e servidoras e terceirizadas. Com um avanço dessa luta já é possível dizer que estamos em um outro cenário sobre essa situação, mas que ainda não é suficiente. Um exemplo é que é possível contar nos dedos as mulheres transexuais estudam na sua faculdade, se houver.

Mesmo com a entrada de mulheres periféricas na universidade a estrutura ortodoxa e elitizada do ensino superior continua a mesma, de modo que o espaço dessas pessoas na produção de conhecimento ainda precisa ser duramente disputado, pois para uma educação branca, patriarcal e elitista não há lugar para filhas de faxineiras, costureiras e trabalhadoras urbanas e rurais, donas de casa, mães solo, mulheres transgênero, travestis e transexuais, negras e indígenas.

Pensar em uma universidade feita por e para o povo, com acesso irrestrito da camada popular e que fortaleça os de baixo, é pensar em uma universidade que pretende romper com as relações de dominação presentes nos círculos acadêmico, administrativo e social da educação superior, assim como quer romper com essas relações na sociedade. A mulher só viverá dignamente na universidade quando a luta por moradia, permanência estudantil e pelo fim do vestibular estiver em dia, e a capacidade de mulheres periféricas produzirem conhecimento for cada vez mais for posta em prática.

Para isso é necessário construir esse processo de organização política incorporando as questões e pautas dos setores marginalizados.

Portanto, entendemos que é importante erguemos nossos punhos nesse 8 de março para lutarmos contra o avanço do neoliberalismo e reivindicarmos uma vida mais justa para nós, que só é possível através da força coletiva e popular e da democracia direta.

É nós por nós!

MULHER É RESISTÊNCIA NA LUTA POR VIDA DIGNA!

Assinam essa nota:

Resistência Popular Estudantil – RJ

Resistência Popular Estudantil – Marília

Resistência Popular – Fronteira Sul

Resistência Popular Estudantil – Porto Alegre

Resistência Popular Estudantil – Floripa

Resistência Popular Estudantil 28 de Março – Araraquara

UFSC: Se for, vá na luta

A universidade tá começando o ano tipo Bacurau. Já assistiu?

Protagonizamos algumas das lutas mais importantes do país em 2019. Contra a destruição ultraliberal e fundamentalista, oferecemos as maiores assembleias da história da UFSC e uma grande greve estudantil construída pela base, mesmo sem o apoio das grandes entidades estudantis nacionais. Durante o recesso de nossas aulas, na surdina, Bolsonaro e sua trupe tomaram medidas que podem significar um golpe fatal em nossas universidades e na produção científica. A verdade é que todo o seu governo se une no ódio a nós, as pessoas pobres que utilizam os serviços públicos. O que precisamos fazer em 2020 é massificar e radicalizar. Calouras e calouros que estão chegando, já entrem avisadas. Se vierem, venham para a luta.

Durante as férias, no início deste ano, o Governo Federal instruiu às Instituições Federais de Ensino Superior suspender a contratação dos servidores por tempo indeterminado, interrompendo o prosseguimento de concursos e processos seletivos e deixando nossas universidades e institutos federais desfalcadas para o início do ano letivo.

Temos 17 Colégios de Aplicação espalhados pelo país e todos estão sentindo o impacto causado pela falta de professores. Foi preciso adiar o início das aulas em muitas escolas; em outras, o funcionamento é parcial, com estudantes sem aulas em diversas disciplinas. Aqui na UFSC a situação não é diferente. Com o quadro docente incompleto, a educação básica está com aulas de Arte, História, Português e Educação Física comprometidas. Com afastamentos e términos de contrato em março, o cenário do Colégio de Aplicação irá se agravar ainda mais. Em nosso Núcleo de Desenvolvimento Infantil (NDI), que atende crianças de 0 a 6 anos, o horário de atendimento já foi reduzido em 50 minutos, garantindo o atendimento mediante à reorganização e a sobrecarga de trabalho das servidoras da instituição. Na graduação estão faltando cerca de 100 professoras para as aulas que começam nesta semana e disciplinas serão canceladas.

O rombo no orçamento das Universidades Públicas para 2020 é ainda mais profundo: a redução chega a 40%! O governo não fala agora em corte ou congelamento, mas inventa novas figuras retóricas; as palavras da vez são aprovisionamento técnico e orçamento condicionado. Outra vez, as dificuldades irão recair sobre a comunidade escolar, afetando a qualidade da merenda e dos materiais disponíveis às atividades pedagógicas.

Neste início de março haverá a redução (mais de 50%) no montante de bolsas destinadas à estudantes de graduação, que no Aplicação e NDI realizam atividades formativas, auxiliando nas dinâmicas de sala de aula, oferecendo suporte às crianças pequenas e ao público alvo da educação especializada. Já imaginou apenas uma professora em sala de aula para 15 bebês?

A justificativa de parte dessas medidas está na aprovação da Lei Orçamentária Anual, que estabelece o limite de gastos da União. No entanto, essa armadilha está colocada desde a Emenda Constitucional 95 de Temer, que congela os investimentos da saúde e educação, nos asfixiando mais a cada ano. Bolsonaro, que é um Michel Temer piorado, não questiona o teto de gastos, apenas oferece precarização e privatizações como solução. Neste ano, ainda tenta responsabilizar as universidades pelo fim das contratações e pela gestão da crise, colocando nas costas das trabalhadoras e estudantes os graves prejuízos. Não vamos precarizar nossas vidas para satisfazer banqueiros e políticos!

Embora o Conselho Universitário tenha deliberado a continuidade das contratações, nada está garantido. Contra a brutalidade dos de cima, não serão suficientes abaixo-assinados, ofícios, petições, audiências públicas, pressão parlamentar. Também não será com a ANDIFES, a Reitoria ou outras instâncias institucionais que poderemos organizar a resposta necessária. Precisamos nos reunir através de nossos instrumentos de luta, em pé de igualdade entre estudantes e/ou trabalhadoras.

Já temos um calendário nacional de mobilização: o ato do 8M no dia 09/3; a memória ao assassinato de Marielle no dia 14/3; e o dia nacional de paralisação dos serviços públicos, no dia 18/3. Fortalecendo e radicalizando os atos de rua, pressionamos pela construção de uma greve geral de tempo indeterminado. Aumentando o nível de nossa organização nas bases, garantimos que ninguém decidirá nossos rumos em nosso nome.

NÃO PRECARIZARÃO NOSSAS VIDAS!
EM 2020 SEJAMOS INGOVERNÁVEIS!

Vídeos produzidos na Greve UFSC 2019

Fizemos abaixo uma seleção de alguns materiais audiovisuais importantes produzidos durante a greve deste ano, para manter o registro e para que nossas produções estimulem as futuras lutas, que precisarão ser ainda mais maiores no ano que vem.

Mais fortes são os poderes do povo!

1. HOSPITAL DA UFSC, HOSPITAL DO POVO!
Produzido pelo Comitê de Greve da Pós-Graduação UFSC

2. ESTUDANTES PELA EDUCAÇÃO
Produzido pelo Mobiliza CCA

3. O QUE EU PERDERIA SEM A UFSC?
Produzido por Relações Internacionais UFSC

4. OS ESTUDANTES DEPREDARAM O CENTRO DE CONVIVÊNCIA?
Produzido por ECOA UFSC

5. MANIFESTO DA GREVE ESTUDANTIL – ANTROPOLOGIA UFSC

3 anos da Ocupa CCB e das ocupações de 2016

No segundo semestre deste ano, completamos três anos das ocupações que tomaram a UFSC em 2016, entre elas Ocupa CCB, em resposta as medidas neoliberais de Michel Temer, como a então PEC da Morte ou do Teto de Gastos (atual Emenda Constitucional 95).

Nós somos frutos do transbordamento da Ocupa CCB, espaço que construímos e que muito nos formou. São inúmeros momentos muito bonitos de luta e resistência, com fortes laços sendo tecidos, que foram parte da ocupação. Assim, saudamos, com o coração repleto de amor e rebeldia, as lutas daquele ano na UFSC, em outras universidades e em milhares de escolas do Brasil.

MAIS FORTES SÃO OS PODERES DO POVO!

Segue abaixo o Manifesto Ocupa(do) CCB.

Manifesto escrito em 23 de novembro pelo movimento Ocupa CCB UFSC, entregue para a Direção do CCB e lido na histórica Assembleia Estudantil do dia 24 de novembro.

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Paulo Leminski

Ocupamos! No dia 16 de novembro de 2016, os corredores e salas do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia e prédios associados (MIP/CCB/UFSC) foram convidadas à vida, dias depois de uma assembleia com cerca de 200 pessoas, na qual decidimos paralisar nossas atividades curriculares e ocupar nosso prédio. Deste modo, conseguiríamos força, união e tempo para estudos de toda a gama de projetos de lei e medidas provisórias que vem sendo colocados com rapidez, inclusive com a defesa explícita dos aparatos midiáticos, dificultando a compreensão da maioria da população do país sobre as proporções de mudanças que estão postas.

Assim, dos brancos e frios corredores, fizemos surgir cartazes com cor, mensagens de resistência, sonhos, esperança, força e amor. O MIP não era mais o mesmo prédio: re-significamos. O que era mera sala de aula, fizemos virar sala de criar, de estudar política, de reunir e de sonhar. Salas de resistir contra o projeto de sociedade proposto pelo governo ilegítimo de Michel Temer, em uma onda de retrocessos e perdas de direitos sociais que não passou pelas urnas, mas foi orquestrada pelo projeto neoliberal hegemônico no mundo e que tem avançado a passos largos. Nossa tática foi ocupar, como fizeram os secundaristas no Chile, em 2006, seguidos pelos estudantes paulistas no ano passado, ambos vitoriosos. Nesse semestre, somos mais de mil ocupações no país, entre escolas, institutos e universidades, entre as maiores ações do movimento estudantil já observadas na história. E nós fomos parte disso. Nós somos parte disso: daqueles e daquelas que lutam e resistem contra um projeto que tem base em um ideal meritocrático, que beneficia aqueles a quem o privilégio já é a norma, que enriquece ainda mais os que já detêm poder. Daí o porquê de ocupar: mostrar que aquilo que eles pretendem tratar como simples propriedade privada, como mera mercadoria, é muito mais que isso. Trata-se do que é nosso por direito! E não deixaremos que tirem de nós e das próximas gerações para sustentar bancos, corporações, especuladores e políticos. Iremos resistir!

O que construímos durante esses dias ecoará pelas paredes desse prédio para além de nossa estadia aqui. Mostramos que é só habitando um espaço, fazendo dele local significativo e afetivo, que entendemos as demandas que emanam dele. Neste período em que estamos ocupando o Centro de Ciências Biológicas (CCB), conquistamos coisas que nunca teriam sido alcançadas com a rotina habitual e corrida de aulas. Laços entre os estudantes de diferentes turnos e turmas foram criados e fortalecidos. Fizemos conversas entre discentes e docentes, que se deslocaram dos campos específicos da Biologia para seus âmbitos políticos gerais. Este movimento nos permitiu perceber os posicionamentos da comunidade do CCB, as posturas e engajamento das biólogas, biólogos e educadores da nossa universidade.

Reconhecendo-nos enquanto categoria, buscamos legitimar nossa decisão perante os docentes, que em alguns casos mostraram apatia frente à conjuntura atual e ao movimento, insistindo em desrespeitar as decisões tomadas por nossa assembleia estudantil e ignorando o movimento que assola a universidade. Fomos firmes em nossas deliberações, paralisar e ocupar, e assim o fizemos. Buscamos mostrar aos professores que a resistência só se faz com autonomia e que era possível romper a inércia da categoria. Sentimos que fomos reconhecidas(os) por muitos enquanto membros articulados (artrópodes?), que juntos tecemos teias de apoio mútuo para enfrentar o corte de direitos. A solidariedade desses professores chegou a nós de diversas formas: espaços de formação, carta de apoio, e-mails de motivação, ajuda financeira, visitas na ocupação, entre outras atitudes que reafirmaram: a luta é maior quando estamos juntas(os)!

Construímos uma programação de atividades para que a ocupação fosse, também, do nosso pensar. Estudamos a PEC 55, a Medida Provisória do Ensino Médio (MP 746), o projeto de lei Escola Sem Partido, chamando economistas, educadoras(os), advogadas(os). Lemos os documentos, buscamos textos e vídeos informativos, procuramos entender o que é a dívida interna e externa, o que é a medida provisória e quais serão os impactos desse projeto de sociedade para os serviços públicos: como as professoras e professores são afetadas(os), como a ciência é afetada, como as e os estudantes são afetadas(os), como as negras e negros, bem como populações indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas desse país são afetadas(os). Foi possível adentrar as discussões políticas sobre legitimidade de assembleias, pensar e fazer materiais para que esse acúmulo pudesse romper os muros da Universidade. Sentimos, escrevemos, expressamos, criamos um grupo de teatro de rua. Saímos também do CCB para fortalecer a luta secundarista da cidade que protagoniza a mobilização no país. Fortalecemos também os contatos com professoras, professores, técnicas, técnicos e trabalhadoras(es) terceirizadas que compartilham esse espaço conosco e também a luta contra os retrocessos no país. Foi criada uma rede micelial que conecta, que troca, que fortalece, que expande. Lançamos esporos.

Cheios e repletos de tudo que significou essa semana, realizamos na noite de domingo uma reunião com pauta única: Horizontes. E assim, levando em conta a nossa vontade de quebrar os muros que separam a Universidade do povo, a urgência de fortalecer os movimentos populares e a luta das e dos trabalhadoras(es), considerando também que estamos em um cenário de final de ano e esvaziamento da Universidade, decidimos por TRANSBORDAR.

Transbordar: estar repleto e exceder, ir além. Tudo o que construímos já não nos cabe mais, excedeu e precisa atingir outros espaços. Rompemos as paredes, os muros e agora rumamos para fora do CCB. A rua nos chama para uma vida de militância e resistência. A “Ocupa CCB” não terminou por aqui, pois é aqui que ela tem início: quando nossos corpos deslocam-se do caminho conhecido e tomam as ruas, os morros, a cidade. A ocupação é um meio, não um fim. Nosso horizonte de sociedade parte dos princípios com os quais construímos essa ocupação: autogestão, apoio mútuo, autonomia e amor.

Citando nossas irmãs e irmãos da UDESC, após a reintegração da Tenda da Democracia, “a paz do silêncio não é paz, é medo”; não nos deixemos calar frente aos retrocessos que estão por vir. Devemos lembrar que somos sujeitos políticos, críticos, que tomam a ação de refletir e se posicionar frente a uma estrutura socioeconômica que inibe e negligencia nossos sonhos e possibilidades. Romperemos as barreiras espaciais e temporais da OCUPA CCB, continuamos e continuaremos na luta, na persistência e na resistência, para nos projetarmos nestas lutas que nos esperam. Transbordamos para uma vida de resistência.

Entendemos que este período foi essencial para nossa formação e para a criação de uma identidade como grupo, e esse processo de transformação tornou o CCB muito pequeno para o que fizemos de nós. Co-criamos, assim, um coletivo que transborda o CCB, e gostaríamos de agregar todas e todos que estão indignados com o atual momento para somar com a gente nesse movimento. Na sexta-feira, dia 25 de novembro de 2016, estaremos transbordadas e transbordados, fortalecendo a luta das e dos trabalhadores do país no dia de paralisação nacional. O MIP voltará a ter seu acesso pela porta costumeira, no entanto, ele já não é mais o mesmo; em seus cantos ecoam nossos cantos. Nosso micélio invadirá as ruas e não sairá dela até que nossa voz seja ouvida. Entendemos que a força da classe dominante é grande, mas que o poder popular é capaz de balançar até derrubar os retrocessos vindos de cima: quando os de baixo se movimentam, os de cima caem. Com isso estaremos nas ruas, nos bairros, nos centros comunitários e nas escolas dando continuidade a nossa luta.


Nosotros

seguimos creyendo
en los asombrosos poderes
del abrazo humano.
Eduardo Galeano

Assinam as e os ocupantes,
Ocupa CCB
23 de novembro de 2016

Organizar para resistir, aquilombar para avançar!

Nossa geração de militantes enfrenta a mais dura conjuntura de nossas vidas. O avanço do imperialismo tem nos empurrado para subempregos ou mesmo para o desemprego. Quem não conhece um amigo ou uma amiga que esta sobrevivendo de bico, Uber, Rappi ou que não consegue sair da casa dos pais por não encontrar trabalho? Quantos de nós não estamos nessa condição?

A ausência de direitos trabalhistas, a flexibilização nos horários, a inexistência de seguridade são a norma da história da nossa classe, principalmente para os trabalhadores pretos e enquanto o trabalho cai os preços só sobem. Não bastasse isso, o governo corta da educação, da saúde, do saneamento, para pagar a imoral divida pública e bancar o nosso genocídio, esse ano já foram 6 crianças assassinadas pelo Estado brasileiro, 2900 vítimas ao todo só no primeiro semestre e aparecem relatos de tortura aos montes. A maioria esmagadora dos casos chacinando a juventude preta. Fica evidente que o racismo se estrutura no capital pra superexplorar os trabalhadores pretos e as trabalhadoras pretas. .

A barbárie se aprofunda, os de cima querem nos tirar o suor, o pão e o sangue. Portanto só temos uma alternativa: nos organizar pra resistir e a quilombar pra avançar!!

Enquanto polo dos oprimidos e oprimidas é necessário nos organizarmos, tomando autogestão, solidariedade de classe, combatividade, democracia direta, internacionalismo, antirracismo como princípios, devemos unir as lutas tomando o processo de a quilombagem como referência.

Os quilombos, sociedades livres de ex-escravos, pretos nascidos livres, indígenas, trabalhadores brancos pobres, prostitutas e qualquer um que estivesse disposto a combater por liberdade; proliferaram pelo Brasil defendendo a propriedade coletiva, a tomada de decisão ampla e participativa, a construção de um polo de poder dos de baixo para enfrentar os de cima sem conciliação. Sua organização e luta arrancaram o fim da escravidão, não a bondade de uma princesa. Atualmente seguem nas trincheiras da luta para conseguirem o reconhecimento de sua cultura e organização social, bem como de seus territórios. A especulação imobiliária e a ação de latifundiários e pistoleiros continuam a invadir quilombos, perseguindo, encarcerando e matando lideranças; assim como faziam os capitães do mato. No mesmo sentido, são raras as ocasiões em que o poder público reconhece a relação cultural e harmoniosa entre os quilombolas e o meio que vivem quando da delimitação de reservas naturais. Desse modo, aqueles que viveram por séculos em determinada relação com o ecossistema que os cercam, passam a ser proibidos de seguir com seus costumes, considerados pelo Estado como predatórios e ilegais. O Estado racista que mata e tortura a população preta nas periferias das grandes cidades é o mesmo que legitima os ataques do capital aos quilombos brasileiros.

Nas universidades, a luta preta tem avançado com a conquista das ações afirmativas, arrancada pela luta e não como um presente de nenhum governo. Na última década, houve uma grande transformação no perfil da estudante universitária. Mas, embora tenhamos caminhado no horizonte de pintar a universidade de povo, a verdade é que o principal ainda está por ser feito. A maior parte de nossa juventude pobre e preta continua mantida afastada deste espaço pelo filtro de classe e racial que é o vestibular. Além disso, as políticas de permanência sempre foram insuficientes e estão cada vez mais ameaçadas, fazendo com que muitas de nós sejamos expulsas pela porta dos fundos, sem meios para nos sustentar na universidade. Na pós-graduação, a luta pelas ações afirmativas ainda dá seus primeiros passos, mas tem real potencial para avançar no próximo período. Entre a categoria docente, de maior poder institucional dentro das universidades, sabemos que o povo preto e indígena ainda encontrou poucos espaços. É essa presença e luta, preta e indígena, que dá margem para avançarmos mais na disputa do sentido da universidade pública, seja nos currículos, nas aulas, nas pesquisas, na extensão popular.

Que sigamos o exemplo do provo preto e combatamos sem conciliação, organizados entre os nossos. Até fazer cair cada governo que nos ataque, que chacine nossas crianças e queira que trabalhemos até morrer. Se vivemos a conjuntura mais dura de nossa geração, que combatamos de forma dura até obtermos as vitórias para a nossa classe!

Viva Zumbi! Viva Dandara!
Só o povo salva o povo!
Lutar, criar, poder popular!

Assinam essa nota:

Resistência Popular Estudantil – Floripa
Resistência Popular Estudantil – Marília
Resistência Popular Estudantil – Porto Alegre
Resistência Popular Estudantil – Rio de Janeiro

Repórter Popular | Declaração pública das Universidades de Rojava e Kobane (Curdistão)

As universidades de Rojava e Kobane lançaram, no dia 10 de outubro, uma declaração ao público que foi lida em árabe, curdo e inglês, em frente ao prédio da Universidade de Rojava na cidade de Qamishlo, com a presença de dezenas de administradores, professores e estudantes das duas universidades.

Além de traduzir a declaração, nós da Resistência Popular Estudantil – Floripa convidamos todas as organizações estudantis, entidades acadêmicas e de luta sindical no campo da educação superior a se posicionar em defesa das universidades do Curdistão, ameaçadas pelo ataque genocida do Estado turco, e somar esforços junto ao povo curdo, que construiu nos últimos anos uma incrível experiência revolucionária no Oriente Médio, pautada no anticapitalismo, no feminismo, na ecologia, na democracia de base e no respeito entre os diferentes povos e religiões da região.

À OPINIÃO PÚBLICA

Nós, enquanto universidades de Rojava e Kobane, afirmamos que a história testemunha outra conspiração contra nosso povo de resistência. Por sete anos, o povo curdo de Rojava e do Norte da Síria respondeu aos ataques de mercenários que vieram de todo o mundo e, assim, defendeu toda a humanidade. Hoje, no entanto, esse povo de resistência enfrenta um ataque internacional sistemático. Embora seja visível que o Estado turco está lutando, há forças internacionais por trás dele. Essas forças, que haviam apoiado a resistência do povo curdo contra o Estado Islâmico, hoje, por seus interesses sujos, aceitam e até mesmo participam do ataque que mira os curdos.

Cidadãos da Rússia, Estados Unidos e de outros países foram mortos pelo Estado Islâmico, com a coordenação do Estado turco. Mas hoje essas mesmas forças abrem caminho para o Estado turco – que adota o Estado Islâmico e seus mercenários para cometer massacres dos neo-otomanos contra o povo curdo.

O Estado turco e seus mercenários do Estado Islâmico, Jabhat al-Nusra, Ahrar al-Sham e outros, atacam todo lugar onde haja valor social, histórico e científico, para destruir, matar e saquear. O mundo inteiro está assistindo a sabotagem do Estado turco e seus mercenários em Afrin, Palmyra, Mosul, Raqqa e Husankaif.

Nós, enquanto professores, estudantes e equipe das universidades de Rojava e Kobane, apesar dos ataques do Estado turco, buscamos construir ciência e conhecimento nos últimos três anos. Infelizmente, hoje, todos os esforços, valores e virtudes das universidades e escolas estão sob sério risco frente ao terrorismo de Estado e dos mercenários.

Nós, nas universidades de Rojava e Kobane, defendemos que a ciência e o conhecimento são, acima de tudo, valores sagrados da sociedade, da ética e da decência. Nós seremos dignos desses valores e resistiremos até o fim. Enquanto isso, apelamos a todos os pesquisadores, universidades e entidades científicas internacionais que condenem esses ataques bárbaros, levantam suas vozes e tomem uma atitude contra eles. Para que lembremos que a ciência, o conhecimento e a cultura são os princípios da dignidade humana…

Vida longa à resistência de Rojava / Norte e Leste da Síria!
Morte à conspiração!

Universidades de Rojava e Kobane,
10 de outubro de 2019.

Carta à greve #3: Uma análise das disputas internas à greve e dos desafios para a radicalização de base

Nossa terceira carta à greve chegou com os ventos de rebeldia e resistência das oprimidas do mundo! Chega em meio a revoltas contra o projeto neoliberal na América Latina do povo no Haiti, Argentina, Equador e Colômbia, também em pleno ataque genocida do Estado turco à revolução social no Curdistão. Nessa carta, queremos sugerir que nossa greve aqui na UFSC ainda não chegou ao fim.

¿Cómo luchan los pueblos del Ecuador? Diciendo-haciendo, diciendo-haciendo, diciendo-haciendo, ¡carajo!

1. Temos entidades nacionais, mas não vemos nacionalização das lutas

Os dias 02 e 03/10, chamados nacionalmente por UNE, ANPG, FASUBRA, SINASEFE e ANDES como paralisação de dois dias de luta da educação, não se concretizaram como acúmulo de forças na maioria das cidades brasileiras. Apesar da urgência dos ataques que sofremos nacionalmente e dos exemplos de luta na UFFS, UFSC, Unipampa e UFSM, essas datas não apontaram para a radicalização das lutas. Em partes por intenção explícita das principais forças políticas à frente dessas entidades nacionais, que não mobilizaram para as atividades e que buscam isolar a proposta de greve geral por tempo indeterminado. O ato realizado em Florianópolis, apesar de levar cerca de cinco mil pessoas às ruas, foi marcado por dois fatores que desanimaram a mobilização.

O primeiro deles foi a UNE. De cima do carro de som, a manifestação foi coordenada por estudantes da UNE vindos de outras cidades para nos enquadrar. A posição de quem vê uma manifestação de cima, típica do carro de som, já é geralmente antipática e autoritária, mas foi levada ao seu extremo no último ato: além de usarem o carro de som para propagar uma linha política rebaixada e desanimadora, sufocando o chamado pela greve geral, demonstraram sua total desvinculação com a militância nas ruas ao desconhecer as palavras de ordem escolhidas popularmente nos atos de Floripa, que foram cantadas sistematicamente fora dos seus ritmos usuais. É uma vergonha que a UNE, com o aval do DCE UFSC, que a constroi e dá legitimidade, concentre suas forças em mandar militantes para disputar nosso ato, em uma cidade em que a luta já tem seus contornos mais fortes e combativos, ao invés de buscar atuar em suas outras bases locais, impulsionando a mobilização. Isso demonstra, enfim, o verdadeiro objetivo a que a entidade se propôs com sua visita, que é frear nossa luta.

O segundo fator foram as práticas espontaneístas e oportunistas que, dentro do Movimento UFSC contra o Future-se, fizeram do ato um espaço de disputa por protagonismo, deixando nossa pauta em segundo plano. Por que isso ocorreu?

2. Contra o dirigismo explícito, um dirigismo informal ainda mais ilegítimo

O que estamos chamando aqui de dirigismo não é a tentativa de disputar uma orientação tático-estratégica para o movimento, tarefa política legítima para as organizações políticas e mesmo para sujeitos independentes. O dirigismo se expressa quando a busca por se legitimar e apresentar como liderança é visto como tarefa primordial, colocada acima da busca por fazer avançar a força e as conquistas da luta. É essa intenção de formar referência e ser visto como vanguarda que leva diferentes grupos a disputar quem faz mais falas, quem reivindica a glória de ter proposto determinado encaminhamento, puxado determinada ação – e, pior, quem é mais radical ou quem faz a crítica mais devastadora ou difamadora do grupo adversário. Tais disputas tiram do centro do debate a discussão honesta sobre nossas estratégias e nossos objetivos, impedindo a crítica e autocrítica feita com disposição, não só de assumir os próprios erros, mas de reconhecer os acertos das organizações e movimentos não alinhados. Visto dessa forma, identificamos dirigismo tanto na diretoria do DCE quando na atuação do Movimento UFSC contra o Future-se.

O início do Movimento UFSC contra o Future-se está marcado por uma vontade legítima de fazer a luta acontecer, impulsionada por uma incapacidade do DCE em acessar as bases dos cursos e transformar a luta em algo menos centralizado do que a representação burocrática da entidade, inclusive ao não incorporar táticas de luta surgidas fora das organizações que compõem a gestão. No entanto – mesmo com algumas organizações e entidades participando das reuniões iniciais que levaram a formação do Movimento – ele surgiu sob o discurso de rejeição ao movimento estudantil e suas entidades. É a partir dessa narrativa que ele se desenvolveu cada vez mais como uma minoria radicalizada, sem disposição para construir as entidades de base, cujas ações se voltam à disputa e ao ataque contra o DCE.

É necessário apontarmos uma derrota ideológica ao individualismo nesse processo. Enquanto nossas principais lutas nos últimos anos foram organizadas por articulações de entidades – seja por uma rede de CAs à esquerda do DCE, pela Comissão Unificada, pela Coordenação Estadual de Entidades em Defesa da Educação Pública (COEEDEP) ou pelo Fórum de Lutas – agora estamos dependendo de uma articulação de indivíduos, onde a participação coletiva de estruturas de base é mal vista, chegando ao limite de considerar acordos coletivos e a participação da base como formas de burocratizar ou frear a radicalização. A luta, com pretensão de radicalidade, se torna uma tarefa relegada a poucas pessoas, aquelas “capazes” ou “iluminadas” para fazer tal ou qual ação. E, pior, justo na principal mobilização estudantil dos últimos três anos, quando estamos formando uma nova geração de militantes.

Um comentário à parte deve ser feito sobre a Juventude pela Revolução Brasileira (JRB) e o fetiche dirigista. A organização lançou o primeiro posicionamento público pelo fim da greve na UFSC e, hoje, junto com as organizações que compõe o DCE, fazem a frente de defesa do final da greve. O grupo construiu e insuflou a proposta de greve enquanto foi conveniente, a fim de se apresentar como alternativa mais radical ao DCE UFSC, com o qual essa organização rompeu. No entanto, pouco tempo após o início da greve, quando a JRB se vê incapaz de dar a linha política do Comitê de Greve ou hegemonizar o UFSC contra o Future-se, se volta rapidamente contra a greve, atuando para desmobilizá-la nos cursos.

3. A tirania das organizações sem estrutura

Um coletivo não é mais ou menos vanguardista e autoritário pela ideologia que diz possuir, mas sim por sua forma prática de organização e postura nos espaços de construção política. Ainda que não existam chefes ou lideranças eleitas, coletivos que não possuem uma estrutura interna com distribuição de tarefas e acordos coletivos de organização abrem espaço para lideranças autoritárias informais. É o que acontece em um bloco de rua que tenta arrastar pessoas para tomar a frente de um ato sem nem mesmo apresentar às pessoas a proposta do que será feito, ou o que acontece em uma reunião aberta do movimento em que as principais linhas a serem tomadas já foram discutidas antes entre um núcleo duro – mesmo que se apresente como independente ou autônomo.

Em nossa greve, essa criação de autoridades informais se aliou a uma forte meritocracia tarefista – quem participou de mais reuniões ou organizou mais ações de greve se vê na posição de quem pode decidir mais coisas e se torna imune a críticas. Não causa surpresa que essa postura afasta muitas pessoas da construção coletiva, especialmente estudantes mais novas, com menor histórico de ações ou conhecimentos práticos da luta, como coordenar reuniões, diagramar panfletos, fazer cola de lambe, montar um piquete, etc. A militância se torna tarefa de especialistas, aos quais as novatas devem obedecer ou sair de perto para não atrapalhar.

Valorizamos a importância do UFSC contra o Future-se para a greve que temos hoje. O Movimento fez a greve se tornar possível, possibilitou assembleias massivas e uma grande publicização das ações com produção de material, assim como tem pautado a fundamental ida de estudantes a outras cidades. Frente às dificuldades organizativas e o freio de mão puxado por alguns setores, conseguiu rapidamente puxar ações e iniciativas de luta que saíam do papel e, assim, deram vazão à vontade de atuação de muitas e muitos estudantes, inclusive nós. No entanto, esse polo aglutinador também levou ao esvaziamento de centros acadêmicos e espaços de base; e, neste momento, só a capacidade de construir a radicalidade dentro de cada curso e programa, com amplos setores, pode manter viva nossa greve. Forma de atuação esta que é oposta a se isolar em ações não discutidas nos espaços de representação de base, como os Comitês de Greve.

Consideramos que a situação de desarticulação nas bases de vários cursos é fruto desse processo espontaneísta e sectário de construção da greve. A primeira tarefa de cada estudante que acredita nessa luta é conversar e construir com as pessoas que estão na mesma situação que a sua, ao invés de conversar apenas com seu grupo de afinidade política. A melhor ação a se tomar não é aquela que gera mais adrenalina, mas aquela que produz mais força coletiva.

4. Nossa greve é muito maior do que essa disputa por protagonismo

Estamos entrando agora na sexta semana de nossa greve. Apesar de muitos cursos não terem efetivado a greve e outros já terem saído dela, o fato é que, neste momento, ainda temos greve na maioria dos cursos do CFH, CED, CCB, CCE e CCA, além de alguns cursos e programas em outros centros. Não por acaso, muitos desses espaços são aqueles que tiveram atuação cotidiana de seus centros acadêmicos nos últimos anos, em especial com forças políticas à esquerda do DCE UFSC.

Ao invés de interpretar a greve a partir das posições tiradas por cada organização política, é necessário olhar para essa base, constituída por milhares de estudantes que ousaram lutar, enfrentar professores, a mídia e o governo para afirmar interesses coletivos: garantia de suas bolsas, sua alimentação, educação pública e o emprego de tantas trabalhadoras terceirizadas. Se outras forças políticas olham para essas maiorias com desinteresse, ou como uma massa amorfa para ser conduzida, é papel de quem acredita na ação coletiva e de base priorizar a participação nesses espaços e analisar a greve partindo desse ponto de vista, de sua estratégia e vontade de lutar. São esses os sujeitos que decidem se a greve continua ou não, pois são eles que a fizeram acontecer desde o início.

Abaixo do radar da maioria das análises, a mobilização nas bases dos cursos nos mostra um processo de formação política; ida para as praças e escolas; articulação nacional; vínculo com trabalhadoras de todas as categorias da UFSC, incluindo terceirizadas; e participação em outras lutas que já acontecem fora da universidade. Um caldo de construção e vínculos que pode dar reflexos importantes para os próximos anos, dependendo da capacidade de nossas entidades, movimentos e coletivos de acolher a militância que se forma no processo.

5. Nossa tarefa, seja na greve ou após dela, é construir a radicalização de base

A greve estudantil na UFSC vem revelando a necessidade e o potencial da articulação das milhares de estudantes na luta em defesa de uma educação a serviço do povo e de uma formação que possibilite que decidamos o futuro que queremos construir. Enquanto o Programa Future-se segue avançando nas instâncias de poder do governo, trabalhadoras terceirizadas da UFSC seguem demitidas e o orçamento para as universidades públicas segue reduzido para o ano que vem. Caminhamos para o retorno à universidade restrita à elite branca do país, enquanto a população caminha para a fila do desemprego. Isso só mostra que nossa luta deve seguir e que devemos seguir fortalecendo as bases, nos formando e construindo horizontes coletivos que nos permitam agir também coletivamente.

Essa construção deve ser permanente e se dar de forma organizada, na criação de relações de confiança e aquisição de sentido às ações realizadas. É necessária a articulação com estudantes independentes, evitando uma atuação difusa, desgastante e individualizada, capaz de crítica e autocrítica; é necessário reconhecer que as vitórias são possíveis quando vemos no fortalecimento das bases a razão de engajamento na luta e a garantia de um horizonte comum e significativo; é necessário admitir que ser radical somente é revolucionário e muda a vida quando essa radicalização é desde a base, de forma massiva. É o exemplo que a luta popular no Equador tem nos dado; milhares de indígenas ocupam Quito organizadas em sua entidade, a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE), que desde 1986 faz trabalho de base e agrega força social para que neste momento possa tomar as ruas, avançando com o povo oprimido contra o projeto neoliberal que toma toda a América Latina. Protagonizada por um povo organizado, vemos na radicalidade equatoriana a ação coletiva como seu motor de luta e no dizer-fazer sua estratégia.

CONSTRUIR DESDE A BASE UMA GREVE FORTE!
EM TODA A AMÉRICA LATINA, LUTAR DIZENDO-FAZENDO, DESDE ABAIXO E A ESQUERDA, CARAJO!

Resistência Popular Estudantil – Floripa
14 de outubro de 2019

Repórter Popular | Estudantes em greve se somam à comunidade do Mocotó na luta contra a violência policial, em Florianópolis (SC)

Notícia publicada no portal Repórter Popular.

Na última terça (24), cerca de 100 estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) se mobilizaram para participar junto à comunidade do Morro do Mocotó deum ato contra a violência policial na comunidade.O ato surge como uma resposta a vários episódios de ataques policiais à comunidade, em particular uma ação realizada no dia 12 de setembro, quando duas pessoas foram baleadas e tiros de bala de borracha foram disparados contra crianças e uma mulher grávida.

Em março deste ano, o Mocotó já havia fechado com uma barricada o trânsito na rua Silva Jardim, em frente à comunidade. Naquele momento, já denunciavam o aumento das mortes causadas pela Polícia Militar e o toque de recolher imposto à comunidade. Desde agosto de 2018, há uma base policial instalada no alto do morro, entre o Morro do Mocotó e o Morro da Queimada.

A manifestação foi incluída no calendário da greve de estudantes de graduação e pós-graduação da UFSC, que iniciou no início do mês de setembro.

Ato é resposta a vários episódios de ataques policiais à comunidade | Foto: Reprodução

As reivindicações da greve envolvem a liberação da verba contingenciada pelo Governo Federal, a reposição do Orçamento previsto para 2020, a restituição das bolsas de pesquisa cortadas ao longo de 2019 e o arquivamento do Programa Future-se.No dia 4 de setembro, o Conselho Universitário da UFSC se posicionou contrário ao Future-se, decisão adotada pela maioria das federais no país. Ainda assim, estudantes seguem em luta contra as demissões realizadas de trabalhadores terceirizados e as ameaças de cortes nas bolsas e políticas de assistência, medidas anunciadas caso não haja restituição das verbas.

Além da participação de estudantes grevistas, o ato também contou com o apoio de militantes das ocupações urbanas e de direitos humanos da cidade.

Após o trancamento da via em frente à comunidade por cerca de uma hora, moradores relataram que a realização do ato poderia desencadear uma retaliação violenta da polícia e que o apoio de estudantes e parceiros da comunidade seria fundamental.

A manifestação decidiu, então, subir o morro como um gesto simbólico de compromisso e apoio aos moradores, muitos dos quais não haviam se somado por receio da Polícia Militar, que esteve presente durante todo o ato.

Policiais portando armas letais, sem identificação e com os rostos mascarados estiveram no ato | Foto: Reprodução

Ao chegar no alto da comunidade, a manifestação se deparou com diversas viaturas policiais, incluindo policiais portando armas letais, sem identificação e com os rostos mascarados. Uma negociação buscou chegar a um compromisso de identificação dos policiais e de que não haveria retaliação policial à comunidade, porém sem sucesso.Apenas após cerca de duas horas, em que manifestantes e a comunidade ficaram em vigília em frente ao posto policial, foi possível negociar um acordo de saída, com a presença de advogadas populares e do vereador Lino Peres (PT).

Pelo fim da violência, em defesa de serviços públicos e direitos sociais

Além da denúncia da violência policial, a tônica da manifestação foi a reivindicação de mais serviços públicos e direitos sociais na comunidade, através de creches, escolas, saúde, assistência social, moradia e promoção da cultura.

Na fala dos moradores e organizadores do ato, a presença do Estado na comunidade está quase restrita às forças repressivas, enquanto as verdadeiras soluções para as dificuldades vividas pela comunidade se encontram na garantia de todos esses direitos negados, não apenas no Morro do Mocotó, mas em todas as comunidades de periferia da Grande Florianópolis.

A presença da greve estudantil na manifestação serviu para esse intuito, de ressaltar a importância da defesa da educação pública e gratuita, com acesso e permanência para a juventude periférica, e buscou iniciar um vínculo entre o movimento estudantil e comunitário, a partir das pautas comuns e mais urgentes a esses setores.

As lideranças da comunidade convidaramas estudantes a estender seu apoio de forma permanente, contribuindo com um projeto de agroecologia que está sendo articulado no morro.

No próximo sábado (5) haverá um primeiro mutirão, ao qual estudantes se comprometeram a apoiar.

Carta à greve #2

Mesmo com a greve das trabalhadoras e trabalhadores dos Correios, nossa segunda carta chegou. E é justamente sobre a adesão nos últimos dias a essa tática, dentro do campo da educação e nas demais categorias da classe trabalhadora, que queremos refletir em nossa segunda escrita coletiva sobre impressões e esperanças da greve que se desenha na UFSC. Embora a categoria docente tenha optado, na semana passada, por não aderir à greve de tempo indeterminado, acreditamos que temos bons motivos para continuar com toda a força.

1. No embalo domovimento da UFSC, já vemos outras universidades pautarem a greve

Nossas companheiras e companheiros de outras universidades nos enchem de uma alegre rebeldia e da certeza de que essa luta está para muito além de nós. Desde 17 de setembro, as estudantes do campus Jaguarão da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) estão paralisadas em luta. Na UNESP de Marília (SP), houve paralisação nos dias 18 e 19 de setembro com chamado a uma Greve Nacional da Educação. As docentes da UFPR, nossa vizinha do Paraná, tiraram indicativo de greve por tempo indeterminado e assembleias estudantis também têm discutido a construção da greve. Na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), a Reitoria foi desocupada após a vitória na reivindicação pelo pedido de destituição do interventor Recktenvald, a ser aprovado no Conselho Universitário – decisão acompanhada de perto pela categoria docente, que discute uma greve por tempo indeterminado caso o interventor não saia.

2. A luta pela educação é também uma luta contra o desemprego

Enfrentamos tempos muito difíceis para a educação pública, mas não podemos perder de vista que a vida está dura para todo o povo. Neste ano, foram milhares de pós-graduandas e pós-graduandos com as bolsas cortadas, retribuição que é a única fonte de sustento de muitas trabalhadoras que produzem pesquisa no país. Realizar produção acadêmica e científica é uma forma de trabalho importante para a sociedade, que ocupa tempo e esforço significativos, mas que opera em uma lógica de precarização ao não oferecer salário real nem direitos trabalhistas. Por isso, cortes nas bolsas são sinônimo de aumento do desemprego em massa que vive a classe trabalhadora brasileira!

Além disso, os cortes no orçamento da UFSC levaram à demissão de quase 100 trabalhadoras e trabalhadores terceirizadas. Por todo o Brasil, esses cortes significam mais milhares de pessoas sem emprego. Essa situação só reforça o atual quadro de crescimento alarmante dos trabalhos precarizados e sem direitos, os fenômenos da terceirização e uberização que avançam junto com o projeto neoliberal, explícito em propostas como a Reforma Trabalhista, aprovada em 2017.

A verdade é que o “trabalhador brasileiro é tratado que nem lixo”! É fundamental que nossa greve fale alto e fale sempre: estamos na luta junto ao povo por serviços públicos, direitos sociais e por mais emprego!

3. A precarização do trabalho e aumento no custo de vida serão enfrentadas com luta popular e mais greves

Porém, que nem o Criolo, estamos “pra ver um daqui sucumbir”. Historicamente a precarização da vida sempre foi respondida através de lutas coletivas por melhores condições. O aumento do custo de vida, aliado às altas taxas de desemprego e sub-emprego, são uma afronta direta à classe trabalhadora que é sentida na pele.

A greve é uma maneira concreta de responder àqueles que nos roubam lá de cima, em um projeto colocado em prática pelo Estado e o mercado. Assim, ressaltamos que trabalhadoras dos Correios começaram recentemente a primeira greve nacional deste ano, na luta contra a privatização da companhia pública que, desde 1663, possibilita a correspondência entre gente dos mais diversos lugares. Quem não lembra do filme Central do Brasil e tudo o que uma carta carrega na história de nosso povo?

Além dos Correios, trabalhadoras da CELESC (Centrais Elétricas de Santa Catarina) estão para entrar em greve na próxima segunda-feira, dia 23, reivindicando o que a empresa não cumpriu desde o último acordo. A categoria dos petroleiros também está em estado de mobilização e há discussão sobre greve, após a intenção da Petrobras em não renovar o Acordo Coletivo de Trabalho – a proposta da empresa foi rejeitada e, neste momento, há mediação junto ao Tribunal Superior do Trabalho. A categoria dos caminhoneiros é mais uma que discute a possibilidade de greve, frente ao não cumprimento das tabelas mínimas de frete e o aumento do diesel anunciado na última semana.

4. Construção da greve com a força de cada setor que luta ao nosso lado

É dentro desse panorama de lutas, indignação popular e grandes necessidades materiais que nós começamos há duas semanas uma greve estudantil e chamamos o país a uma greve nacional da educação. Nossa pauta é justa e urgente: as bolsas que sustentam nossas pesquisadoras, o dinheiro que garante o emprego das trabalhadoras terceirizadas, a manutenção do restaurante que nos alimenta e a continuidade da educação pública, acessível às classes oprimidas. A verdade é que não temos nem mesmo do que abrir mão: são reivindicações básicas que cada uma de nós precisa.

A vitória do movimento grevista é incerta, é verdade. Porém, nossa escolha foi feita na coragem e na certeza de que a ação direta é a arma que nos temos. Temos a certeza da história vitoriosa de greves construídas em todo o mundo, em que o povo organizado conseguiu fazer valer seus direitos e sua vida digna. Também temos a certeza de que não estamos sós: a luta se expande por toda parte onde há injustiça. Se a Amazônia queima nas mãos do latifúndio e a violência policial é norma nas periferias de Florianópolis e do Brasil, é com uma greve geral que conseguimos unir nossas indignações e dar um basta a esse projeto de morte.

Dentro da UFSC, temos a decisão das servidoras técnicas pela greve nesta semana. Também temos quase 400 docentes que votaram pela greve por tempo indeterminado e novas ações de mobilização que serão propostas, incluindo a adesão aos dois dias de paralisação nacional da educação – que só terá qualquer utilidade se servir para impulsionar a construção da greve nacional por tempo indeterminado, o quanto antes.

A luta não para no primeiro obstáculo. Sem perder a fé em nós e em nosso horizonte de vitória: se a luta parece incerta, encontremos a certeza nos olhos de nossas compas lado a lado, dentro da UFSC, nas outras universidades em que a luta se fortalece, nos Correios, na CELESC e nas demais categorias em luta!

NÃO TÁ MORTA QUEM PELEIA!
RUMO À GREVE GERAL!

Resistência Popular Estudantil – Floripa
23 de setembro de 2019