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Campanha de Luta Por Vida Digna – 2021

Editorial do Repórter Popular.

Um ano desde que a pandemia se alastrou em nosso país. Nossas condições de vida, que já estavam ruins, agora beiram o insuportável.

Um ano que choramos nossos mortos, que buscamos emprego, que vemos o preço dos alimentos aumentar sem parar. Os governos e os poderosos não nos dão solução, nada é feito para evitar a morte do nosso povo, para sanar a nossa fome, para dar qualquer perspectiva de melhores condições de vida para a população.

Já está mais que claro que para os que estão no poder não interessa quantos morram. Nossas vidas são descartáveis! Para os de cima, somos mão de obra barata e apenas mais um número na contagem de mortos do dia.

Esquecem que somos nós, trabalhadoras e trabalhadores, que fazemos o mundo girar. Que é a força dos nossos corpos que produz toda a riqueza que existe no mundo. Nossa luta nunca parou, e sabemos a força que temos!

É com essa indignação e rebeldia que damos continuidade à Campanha de Luta por Vida Digna neste difícil ano de 2021. Não temos mais tempo a perder, nossa luta é urgente, desesperada e justa. EXIGIMOS VIVER!

Durante esses meses de pandemia, a Campanha de Luta por Vida Digna veio atuando em todo o território nacional com os de baixo, seguindo os princípios de solidariedade, apoio mútuo e ação direta. Enquanto povo forte e combativo, sabemos o que é necessário para superar essa crise, para defendermos nossa vida! E por isso o enfoque neste momento é na questão da SAÚDE e da RENDA.

É urgente a manutenção de um auxílio financeiro para trabalhadores e microempreendedores, que têm sofrido diretamente com o crescente desemprego, precarização de seus trabalhos e queda na renda! Seguimos pautando as dispensas remuneradas e suspensão ou negociação de aluguéis, dívidas e penas, bem como o direito à renda básica e digna de forma permanente, para garantir a sobrevivência da população, especialmente em tempos de crise.

Exigimos um plano de vacinação popular e em massa, que garanta a proteção de toda a população o quanto antes! Que o controle das vacinas seja exclusividade do SUS e que haja expansão dos investimentos em pesquisas desenvolvidas nas universidades e institutos de pesquisa públicos, que têm se mostrado essenciais para o enfrentamento da pandemia. Junto a isso demandamos medidas efetivas para conter o avanço da pandemia, que após um ano se apresenta em seu pior cenário no Brasil, e o colapso de nossos sistemas de saúde. Por fechamentos efetivos e planos de contingência eficazes, com garantia de renda para o povo e que viabilizem segurança sanitária para o funcionamento de serviços não-essenciais e para o retorno seguro de atividades em escolas e universidades.

Como trabalhadores, estudantes, desempregadas e desempregados, militantes e lutadoras e lutadores populares, jovens de periferia e do campo, gente que vive do seu trabalho e não aceita as condições horríveis que lhes são impostas, estamos organizadas e conclamamos todas as pessoas a seguirem se organizando e lutando por SAÚDE E RENDA!

QUEREMOS VIVER!
QUEREMOS VACINA URGENTE PARA O POVO E FECHAMENTO COM AUXÍLIO DIGNO!

NOSSA FORÇA MOVE O MUNDO, LUTAMOS POR VIDA DIGNA!
Campanha de Luta por Vida Digna
Março de 2021

Por uma disputa anticolonial da universidade

Contribuição da Resistência Popular Estudantil – Floripa para o Repórter Popular.

No mês de novembro, a Campanha de Luta por Vida Digna deu foco nos eixos relacionados aos povos originários, populações tradicionais e luta pela terra. Além disso, vivemos um doloroso mês da Consciência Negra, onde prosseguiu a marcha fúnebre colonial que marca nossa história, mas também vivemos a luta e a revolta antirracista nas ruas.

Para nós, que estamos nas universidades e no movimento estudantil, as tarefas vão além de marcar as datas e participar das manifestações. Por um lado, é tarefa coletiva a luta por acesso e permanência, pensando na ampliação das ações afirmativas, nas bolsas, garantia de moradia, alimentação; assim como o combate ao racismo institucional, praticado especialmente por professores em sua relação de poder nas salas de aula, laboratórios e escritórios. Porém, também é fundamental repensar o projeto de Universidade que queremos: seu currículo, sua função social, seus procedimentos internos.

O movimento estudantil brasileiro, em geral, tem debatido concepção de universidade a partir de autores que são homens cis brancos. Apesar do olhar crítico e das importantes contribuições de pessoas como Álvaro Vieira Pinto (A questão da universidade), Darcy Ribeiro (A universidade necessária), ou Maurício Tragtenberg (A delinquência acadêmica), acreditamos que as lutas anticoloniais de ontem e de hoje possuem enorme potencial para aprofundar nossos debates, junto com a contribuição de intelectuais negras e indígenas que estão também refletindo sobre educação e universidade. Além disso, estudantes brancas também têm responsabilidade e compromisso com esse aprendizado e com a difusão das críticas e reivindicações aí formuladas.

Por isso, selecionamos abaixo um conjunto de fontes e referências para tornar nossas lutas do movimento estudantil mais negras e indígenas! Elas tratam de diferentes temas como pesquisa, a educação básica e a universidade.

Articulação Brasileira de Indígenas Antropóloges (ABIA)

Facebook: https://www.facebook.com/abia.indigena/

Instagram: @abia.indigena

Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCWjIM_IkldS72P_wFNbfetA

Articulação Brasileira dos(as) Indígenas Psicológos(as) (ABIPSI)

Instagram: https://www.instagram.com/abipsi_/

Associação Brasileira de Pesquisadores(as) Negros(as) (ABPN)

Site: https://www.abpn.org.br/

Instagram: https://www.instagram.com/contatoabpn

Facebook: https://www.facebook.com/abpn.org.br

Associação de Educadores Negras/es/os de Santa Catarina (AENSC)

Site: https://associacaoensc.wixsite.com/ensc

Facebook: https://www.facebook.com/associacaoensc/

Livro “Povos indígenas e sustentabilidade: saberes e práticas interculturais nas universidades”

Recomendamos, em especial, o capítulo “O papel da universidade sob a ótica dos povos e acadêmicos indígenas”: http://flacso.redelivre.org.br/files/2012/07/361.pdf

Parecer sobre o título de Doutora Honoris Causa para Carolina Maria de Jesus – Prof. Wallace de Moraes (UFRJ)

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=B6UcedcUTrY

III Seminário de Ações Afirmativas do PPGAS/UFSC | Ações afirmativas e o Covid-19: desafios da permanência e produção de conhecimento na pandemia

Site e vídeo das mesas: https://afirmativas.wixsite.com/eventoacppgasufsc

Uma educação para a vida digna na Grande Florianópolis

No mês de julho, as ações da Campanha de Luta por Vida Digna tiveram como pauta a educação. O que significa uma educação digna? O que é uma educação digna no contexto de pandemia? Aqui na Grande Florianópolis, fizemos essas perguntas para professoras/es que atuam em diferentes contextos de ensino.

Educação digna para transformar a vida do povo!
Educação digna para fortalecer a luta popular!

NOSSA FORÇA MOVE O MUNDO, LUTAMOS POR VIDA DIGNA!
#nalutaporvidadigna

Tinta, humor e alimento: Floripa em campanha pela vida digna

Matéria produzida para o Repórter Popular em 24 de julho de 2020 pelo comitê local da Campanha de Luta por Vida Digna.

Florianópolis é conhecida internacionalmente como um belo destino de turismo por suas praias e belezas naturais. Dentro do país, sua imagem também é vendida como exemplo de desenvolvimento econômico e serviços públicos de qualidade. A verdade, no entanto, é bem mais complexa do que essa.

Por trás dos resorts de luxo na praia, uma enorme população de trabalhadoras pobres jogadas a viver em péssimas condições, nos morros ou nas dunas, pelas elites locais. Por trás da educação básica de referência, um grande histórico de luta popular e sindical que resiste às investidas constantes de privatização e sucateamento via Organizações Sociais e entidades do tipo. Nos comerciais de televisão não aparecem a luta histórica do povo pobre neste território, desde a resistência indígena contra o fundador-genocida Dias Velho, o povo negro invisibilizado que ainda se organiza nos quilombos e uma constante presença dos movimentos sociais, com destaque às dezenas de ocupações urbanas nos anos 1990 e a década de fortes lutas pelo transporte público nos anos 2000 – feixe de lutas que nos obriga a tentar olhar para além da cidade, mas para a Grande Florianópolis e suas periferias.

Panfleto do eixo de luta por renda digna colado em muro do bairro Itacorubi.

É neste território que começa a germinar mais uma semente da Campanha Nacional de Luta por Vida Digna (CLVD). Foi o chamado da luta antirracista que nos levou juntas às ruas no início de junho contra o genocídio do povo negro e fez mais nítida a necessidade de articularmos um comitê local da campanha. Assim, a campanha que já tinha adesão da Resistência Popular Estudantil, Coletivo Pintelute e Teatro Comunitário Vermelho Riu convida os contatos de mais confiança e vai crescendo nossa mudinha, uma folha de cada vez, com a parceria com o Feijovegan, o Grupo Organizado de Teatro Aguacero (GOTA) e o Coletivo Ka.

Rapidamente, nos dividimos em algumas frentes e tarefas da campanha. A partir das aptidões e também dos sonhos de cada grupo e cada militante, buscamos apontar a direção onde o solo era mais propício para avançar cada raiz.

Muralismo e comunicação popular

Se o inverno não é tempo pras ondas do mar, tem uma estação em que as notícias de luta podem ser levadas pelas ondas do rádio. Uma das primeiras ações na cidade foi do coletivo Pintelute, que atenderam ao convite da Rádio Comunitária Campeche, deram entrevista falando sobre a CLVD e pintaram um belo mural na emissora que é porta-voz do movimento comunitário. O imperativo do isolamento social impediu a realização das oficinas previstas de muralismo junto à comunidade, mas as tintas deram seu recado no muro e as ações e reivindicações da vida digna puderam ser ouvidos por moradoras, moradores e pelas trabalhadoras e trabalhadores do bairro do Campeche.

Detalhe do mural pintado junto à Rádio Comunitária Campeche.

O carro-som da campanha

Campanha, campanha, campanha! Ao povo, que não é pamonha, cabe criticar, reformar, extinguir e criar as suas próprias instituições em busca de uma vida digna. Foi mais ou menos assim que, com humor característico, as vozes e os sons do Teatro Comunitário Vermelho Riu deram vida ao carro-som da campanha. O áudio de divulgação da CLVD começou circulando nos meios mais acessados da pandemia, os grupos de whatsapp, mas o comitê local também já conseguiu um megafone popular para dar aquela volta de carro ou de bicicleta no sábado de manhã.

Ouça aqui o áudio produzido pelo Teatro Comunitário Vermelho Riu.

Frente de alimentação e abastecimento

A criação de uma frente de ação voltada para o eixo do abastecimento popular agregou mais gente em torno de atividades que já eram realizadas por dois coletivos que integram a CLVD na Grande Florianópolis, a Feijovegan e o Coletivo Ka. A coordenação e ampliação das atividades desse coletivos, comprometidos com o preparo e a distribuição de itens de necessidade básica para pessoas em situação de vulnerabilidade, vem engrossando o caldo das ações e contribuindo para seu avanço e dispersão. O desafio é grande: o diagnóstico social participativo da população em situação de rua realizado pelo Instituto Comunitário Grande Florianópolis (ICOM) e pelo Movimento da População em Situação de Rua de Santa Catarina (MNPR-SC), entre 2016 e 2017, indica que hoje mais de 500 pessoas estão sujeitas ao frio, à fome e à pandemia, apenas no município de Florianópolis (Diagnóstico Social Participativo da População em Situação de Rua da Grande Florianópolis, 2017).

Alimento saudável e solidário em produção.

Além da continuidade da atuação dos coletivos, que envolve ações semanais distribuindo dezenas ou mesmo centenas de marmitas, foi organizado um ponto de arrecadação de alimentos, agasalhos e cobertores em uma escola do Sul da ilha, onde funciona uma Célula de Consumo Responsável. Isso aumentou nossa capacidade de resposta diante da grande demanda. Através da articulação com a coordenação da célula, a campanha tem conseguido ampliar a arrecadação de alimentos orgânicos que se tornam ingredientes para as refeições distribuídas. Assim, o vínculo de apoio com a iniciativa que escoa a produção orgânica da agricultura familiar se torna mais solidariedade. Cada marmita leva o calor do alimento e do acolhimento mútuo, em um momento de troca, de escuta, onde se busca a prática e a consciência do que é necessário para uma vida digna.

Dezenas de marmitas prontas para a distribuição da semana.

Ao contrário do que vemos nas grandes mídias, é verdade que a realidade das ruas de Florianópolis continua exigindo mais do que a CLVD pode fazer atualmente. As condições ficam ainda mais dramáticas durante o inverno. Por isso, com a intenção de estender as relações de apoio mútuo de forma duradoura, durante e depois da pandemia, companheiras da frente de alimentação produziram o Manual de Abastecimento Popular. Trata-se de uma ferramenta de participação, com informações sobre como contribuir e se somar com essa rede de arrecadação, preparo e distribuição de alimentos, agasalhos, cobertores e itens de higiene pessoal.

Confira aqui o Manual de Abastecimento Popular produzido.

Mapa colaborativo

Com a marcha das ações de abastecimento, foi possível planejar um trabalho de comunicação da campanha segundo as demandas das principais ações em curso. Neste momento, um grupo de trabalho está ocupado com o desenvolvimento de uma ferramenta que sirva à facilitação da coordenação autogerida das iniciativas populares de abastecimento difusas na cidade. A ideia é que o projeto funcionará em conjunto com o Manual de Abastecimento Popular, na forma de um mapa colaborativo que possibilite a articulação de ações em curso, na direção do fortalecimento de uma rede de solidariedade alimentar!

Próximas ações

Foi um primeiro mês empolgante para a construção da campanha em nossa região. Seja nos pincéis, no fogão, na escrita, na produção audiovisual ou na articulação e comunicação de todo o grupo, todo mundo conseguiu dar a pequena contribuição que faz nosso instrumento de solidariedade e rebeldia tomar forma e ganhar vida.

Nas próximas semanas queremos avançar com novas ações, colocando nas ruas ações das frentes de luta por educação para uma vida digna, de defesa da saúde popular e de combate ao machismo e à violência contra a mulher.

A verdade é que o principal ainda resta por fazer. Lá fora reina a violência e desamor estrutural do sistema de morte em que vivemos. A pandemia da COVID-19 e a pandemia capitalista, patriarcal, racista e colonial seguem infectando nossas comunidades e desafiando nossos sonhos por uma vida digna. Somos apenas uma pequena tentativa, em uma localidade, de dar uma resposta a tudo isso. Ainda que nossas capacidades sejam pequenas, nossos braços e pernas se movem carregando os princípios do mundo novo que queremos construir. Esperamos que a Campanha possa ser uma estrada aberta, uma parte do caminho que nos leva até ele.

Doações de alimento orgânico das Células de Consumo Responsável para a produção de marmitas para a campanha.

Boletim de Junho/2020: Campanha de Luta por Vida Digna

No mês de junho, as ações da campanha incluíram a luta contra o genocídio do povo preto, pobre e periférico, com construção e participação em atos por todo o território nacional, além de ações de solidariedade, que também englobaram a questão da renda digna.

Lutar contra o racismo por vida digna!
Renda Digna pra enfrentar a pandemia e pela vida do povo!
NOSSA FORÇA MOVE O MUNDO, LUTAMOS POR VIDA DIGNA!

#nalutaporvidadigna

Se o seu coletivo, movimento ou associação quiser se somar à campanha, entre em contato com o Repórter Popular pelo WhatsApp (51 989606682), Facebook (https://www.facebook.com/reporterpop/) ou Instagram (http://www.instagram.com/reporterpopular).

Nossa força move o mundo: lançamento da Campanha de Luta por Vida Digna

CAMPANHA DE LUTA POR VIDA DIGNA
PAUTA DE EMERGÊNCIA POPULAR CONTRA O CORONAVÍRUS
NOSSA FORÇA MOVE O MUNDO, LUTAMOS POR VIDA DIGNA!

Nossa luta nunca parou. Ao redor do mundo, são os nossos braços que constroem e operam máquinas, que dirigem e entregam mercadorias, que projetam, fabricam, embalam, distribuem e vendem produtos. Nossa vida como povo sempre dependeu de estarmos na ativa, firmes e fortes, mesmo nas piores condições.

Condições que pioraram nos últimos anos. O governo, junto com os mais ricos do Brasil, flexibilizaram as leis trabalhistas (nossas garantias), precarizaram nosso trabalho (nossa dignidade), colocaram milhões na rua (nosso ganha-pão) e por fim, aos que ficaram, sobrou trabalhar quase que de graça.

Os investimentos nos serviços públicos diminuíram, fazendo a qualidade piorar. Muitas vezes nos fazendo correr atrás de convênios de saúde ruins para resolver problemas que antes eram resolvidos no postinho, ou ficar meses em uma fila da creche e ter que deixar o filho cada vez mais longe de casa. Depois de anos trabalhando e contando os dias para a aposentadoria, parece que agora nem adianta mais contar. Se temos um benefício baixíssimo do governo, outro que aparece não podemos ter. O pouco que falta é muito para quem não tem nada. Cada dia mais estamos sendo encurralados por quem não parece se importar.

Hoje, com a pandemia, a situação fica ainda mais perigosa e injusta. Ditam como essenciais atividades que mantém a vida dos mais ricos confortáveis e se não concordamos, somos dispensadas e dispensados. Não nos dão importância, nos matam ao nos deixar sem proteção trabalhando, não existe opção para quem depende de baixo salário. O deslocamento faz parte do trabalho, a aglomeração faz parte do trabalho.

Matam nossas crianças, entram em nossas vilas com tratores e em nossas casas sem permissão e continuam fazendo isso na pandemia. Parece que esse trabalho não foi interrompido, pelo contrário, estão matando mais pretas e pretos, pobres e mulheres.

Todos os dias vemos os povos indígenas exigindo que parem de matá-los também, de matar a natureza. Os indígenas dizem que a natureza revida. Nas chuvas, no frio e no calor, todos nós sentimos isso. Perdemos nossos bens, os peixes param de vir, as plantações sofrem e a noite nós pensamos: “Como podemos sobreviver mais amanhã?”. Não existe lugar em que possamos ir para resolver nossos problemas. Não existe fila que resolva.

A destruição dos nossos recursos naturais, das nossas águas e da nossa terra está na agenda dos grandes senhores do capital. Além disso, nossos povos originários e comunidades tradicionais gritam de dor e exclamam suas defesas em nome dos ancestrais caiçaras, coletores, marisqueiras e pescadores que cuidam de nossas matas, rios, lagoas, mares e terras produtivas para o povo.

Por isso, como trabalhadores, estudantes, desempregadas e desempregados, militantes e lutadoras e lutadores populares, jovens de periferia e do campo, gente que vive do seu trabalho e não aceita as condições horríveis que lhes são impostas, estamos organizadas e organizados em uma ampla campanha de luta por vida digna, contra a vida cara e violenta que nos é imposta e contra o horror da pandemia.

Nem aceitar passivamente a situação, nem deixar que o medo nos paralise: estamos em todo o país, nos organizando como pudermos para fazer ações de solidariedade, nas vilas e nas favelas. E nos colocando a serviço de quem precisa, sem nunca parar de dizer que essa crise tem culpados. Sem desistir de lutar por uma vida digna.

Diante deste cenário, nossas demandas e ações nesta campanha incluem diferentes eixos:

1) SAÚDE PÚBLICA E UNIVERSAL

Requisição dos meios particulares para ampliação do sistema público e gratuito do SUS. Testagem em massa e gratuito para trabalhadoras e trabalhadores, ampliação do número de agentes comunitários de saúde, estendendo para além da pandemia a maior atenção primária e valorização destes trabalhadores. Entre nós, valorizar e participar de ações de solidariedade organizadas em redes de apoio mútuo para conter o atual cenário de contágio do COVID-19, campanhas de distribuição de testes, máscaras de proteção facial e outros EPIs para a população e para profissionais da saúde na linha de frente no combate à pandemia. Para ajudar na produção de máscaras e distribuição às pessoas, ateliês de costura e costureiras tem feito um excelente trabalho em produzi-las e muitas vezes de forma gratuita.

2) DISPENSA REMUNERADA E RENDA SOCIAL PERMANENTE

Garantia de dispensa do trabalho nas atividades não essenciais, sem demissões e nem redução salarial. Renda básica permanente de PELO MENOS 1 salário mínimo e meio para todos os trabalhadores, principalmente o povo da economia informal, desempregadas e desempregados, trabalhadoras e trabalhadores em condições precárias na rua como de entrega e serviços. Este valor ainda está muito abaixo do valor apontado pelo DIEESE, que é mais de R$ 4 mil mensais para sustentar dignamente uma família de 4 pessoas.

3) SUSPENSÃO DE CONTAS, DÍVIDAS E PENAS

Suspender aluguéis, dívidas, empréstimos e multas. Isenção de tarifas de serviços essenciais que afetam a vida dos mais pobres. Liberação das penas dos presos no regime semi-aberto e de quem não tem julgamento. A grande maioria de presas e presos é pobre e negra, sofrendo com o encarceramento em massa que mata diariamente, humilha familiares e aprofunda o genocídio do nosso povo.

4) DIREITO A MORADIA DIGNA

Solidariedade à população em situação de rua e sem-teto! Suspensão imediata de despejos ou ordens judiciais de reintegração de posse. Fazer cumprir a função social de edifícios vazios para fim de moradia digna e amparo a todas e todos. Subsídio de hoteis próximos a hospitais para profissionais da saúde para proteção de suas famílias. Se morar é um direito, ocupar é um dever!

5) ABASTECIMENTO POPULAR

Disponibilizar mantimentos da merenda escolar para consumo em casa. Prioridade aos serviços de abastecimento e tratamento comunitários de água e esgoto, bem como fornecimento de energia elétrica, ou seja, serviço ininterrupto aos locais sem possibibilidade de armazenamento. Possibilidade de uso das cozinhas escolares para a produção de marmitas a serem distribuídas àqueles sem acesso à condições de preparo.

6) INVESTIMENTO PÚBLICO E DIVISÃO DA RIQUEZA

Aumento dos investimentos públicos para as necessidades populares de saúde, renda, abastecimento e plano de economia popular para suprir as urgências sanitárias. Taxação das grandes fortunas, dos lucros e dividendos dos grandes empresários e fim do ajuste fiscal.

7) CONTRA O GENOCÍDIO DO POVO PRETO, POBRE E PERIFÉRICO

Contra as ditaduras e o poder de governar pela morte do povo. Pelo fim da criminalização e encarceramento sistemático da população preta e periférica, justificado pela falácia da guerra às drogas. A crise é permanente contra o povo preto e pobre, atingidos pela ausência de direitos, afetos e oportunidades. Vigiados pela naturalização racista da higienização social.

8) DIREITOS DOS POVOS ORIGINÁRIOS E POPULAÇÕES TRADICIONAIS

É preciso fortalecer as redes de solidariedade e apoio mútuo com indígenas, quilombolas e povos da mata e das águas, pois com o território espoliado fica prejudicada a autonomia alimentar, as práticas de cuidado e de atenção à saúde. Pela imediata demarcação das terras indígenas e titulação dos territórios quilombolas! Pelo fim do genocídio nos territórios tradicionais! Contra o aparelhamento da FUNAI pelo missionarismo neopentecostal, que busca catequizar as populações indígenas não contatadas, levando a Covid-19 e outras epidemias, como o vírus do colonialismo!

9) PARALISAÇÃO IMEDIATA DA MINERAÇÃO NO BRASIL

A mineração foi considerada atividade essencial pelo governo federal. A continuidade da extração mineral nesse modelo só importa para quem lucra em cima da exploração dos trabalhadores do setor, cujas vidas já eram colocadas em risco, em condições de extrema insalubridade antes da pandemia. Tal decisão é parte do projeto genocida neoliberal, para garantir os ganhos estratosféricos do capital industrial e financeiro ligado à extração mineral. Essencial é a vida do povo!

10) REFORMA AGRÁRIA POPULAR E A LUTA DO CAMPESINATO

Reforma agrária já! Direito à terra e à alimentação de qualidade para todos! Com a pandemia, ficou ainda mais evidente que quem garante o abastecimento das cidades são os pequenos produtores rurais, as trabalhadoras e trabalhadores da terra. Pelo fortalecimento dos movimentos sociais do campo, linha de frente da luta pela terra. Pelo fim dos assassinatos no campo, a mando do latifúndio e do agronegócio. A luta e a resistência campesina garantem a soberania alimentar de todo o povo em território brasileiro. Pelo fortalecimento dos vínculos e redes de apoio mútuo e solidariedade entre campo e cidade na luta por vida digna.

11) PELO FIM DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

O isolamento social traz para perto das mulheres seus agressores e dificilmente elas conseguem expor a situação. Além de conviver com o silêncio da violência são sobrecarregadas com o cuidado da casa e da família, o que afeta ainda mais sua condição psicológica. São as mulheres mais pobres que ocupam a linha de frente do atendimento à saúde e que se expõem como empregadas domésticas. Seja saindo de suas casas todos os dias ou em isolamento social, sobretudo mulheres pretas e periféricas, que sofrem as dores e o medo da morte mais de perto.

12) CONTRA O DESMONTE DA EDUCAÇÃO PÚBLICA

Na luta contra qualquer corte que se apresente no orçamento ou na estrutura da educação pública. Contra os ataques aos trabalhares e trabalhadoras da educação! Pela suspensão do calendário letivo de escolas, institutos e universidade de acordo com a continuidade do isolamento social. Contra a política neoliberal de implementação do EaD ou de atividades remotas no setor da educação pública, uma vez que a realidade do povo brasileiro não permite o acesso aos recursos necessários, em especial durante a pandemia. Pelo acesso e permanência de crianças e jovens à educação básica de qualidade. Em defesa dos estudantes do povo. Pelo fim do vestibular!

Assinam esta campanha:

– Ação Antifa M’Boigy (Mogi das Cruzes/SP)
– Alternativa Popular (Londrina/PR)
– Amigos da Terra Brasil
– ANTAR – Poder Popular e Antiespecista (RS)
– Articulação Libertária (Santa Maria/RS)
– Ateneu Libertário A Batalha da Várzea (Porto Alegre/RS)
– Autonomia e Luta (MT)
– Baque Mulher (Curitiba/PR)
– Centro de Cultura Social (Rio de Janeiro/RJ)
– Centro de Formação Saberes Ka’apor (MA)
– Clube de Mães da Periferia (Porto Alegre/RS)
– COLEP (Porto Alegre/RS)
– Coletivo Catarse (Porto Alegre/RS)
– Coletivo Mulheres em Movimento de Ananindeua (Ananindeua/PA)
– Coluna Vermelha (Porto Alegre/RS)
– CUAPI – Coletivo Urbano em Apoio aos Povos Indígenas (SP)
– Cursinho Comunitário Quebrando a Banca (Maceió/AL)
– Dandaras – Coletivo de Mulheres Negras (Santa Maria/RS)
– Escolinha Comunitária Elena Quinteros (Santa Maria/RS)
– Espaço Iraímas (Alegrete/RS)
– Grêmio Antifascista (Porto Alegre/RS)
– Guandu – Grupo de Agroecologia (Santa Maria/RS)
– Juventude Antifascista (Caxias do Sul/RS)
– Movimento de Organização de Base (MG)
– Movimento de Organização de Base (RJ)
– Movimento de Organização de Base (PR)
– Movimento de Organização de Base (PA)
– Movimento Passe Livre (Joinville/SC)
– Mulheres Resistem (AL)
– Mulheres Resistem (MT)
– Mulheres na Resistência (RJ)
– Mutirão – Grupo de Trabalhadores da Terra (RS)
– Núcleo Pró Movimento de Organização de Base (Mogi das Cruzes/SP)
– Núcleo Pró Movimento de Organização de Base Jardim Ângela (São Paulo/SP)
– Ocupação Vila Resistência (Santa Maria/RS)
– Pintelute (SC)
– Rádio Comunitária A Voz Do Morro (Porto Alegre/RS)
– Resistência Popular (AL)
– Repórter Popular
– Resistência Popular Estudantil (Florianópolis/SC)
– Resistência Popular Estudantil (Marília/SP)
– Resistência Popular Estudantil (Araraquara/SP)
– Resistência Popular Estudantil (RJ)
– Resistência Popular Estudantil (PR)
– Resistência Popular Sindical (PR)
– Resistência Popular (RS)
– SDV Reciclando (Porto Alegre/RS)
– Teatro Comunitário Vermelho Riu (Florianópolis/SC)
– Tod@s – Coletivo Libertário da Serra Gaúcha (Caxias do Sul/RS)
– Vila Boa Esperança (Porto Alegre/RS)

26 de maio de 2020

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