Leia a notícia: https://apublica.org/2020/04/laureate-usa-robos-no-lugar-de-professores-sem-que-alunos-saibam/
Segundo denúncias obtidas pela Agência Pública, a rede de instituições de educação a distância (EaD) Laureate está usando um programa de computador (LTI) para corrigir atividades dissertativas de suas estudantes. Dirigentes proibiam que estudantes fossem informadas de que isso estava acontecendo – e não é difícil entender por quê: cheias de problemas, as correções automáticas não são capazes de refletir o real desempenho estudantil, e inclusive deixam passar plágios.
Esta notícia é um exemplo perfeito do que discutimos em nossas recentes análises sobre a EaD na pandemia: tecnologias como esta subvertem completamente o real significado da educação, privando as estudantes de um desenvolvimento mais adequado da relação com professoras no momento avaliativo. Além disso, prejudica também a perspectiva da classe trabalhadora docente, pois com o tempo o sistema será certamente “aperfeiçoado” para que engane as estudantes o suficiente para não gerar reclamações (não importando o que tenham aprendido, ou que tipo de profissionais e seres humanos serão). Absolutamente NINGUÉM ganha com isso, exceto os acionistas da empresa, que amplia seu poder no âmbito dos conglomerados educacionais privados. O fato de a medida ter sido escondida e aplicada em tempos de pandemia torna este projeto ainda mais cruel.
Como apontamos em nossa série de textos, é preciso ser crítico quanto à maneira como as tecnologias são apresentadas como soluções miraculosas, especialmente em tempos de crise. Através da naturalização da EaD e de nosso engajamento acrítico com ela, aprendemos que “educação” significa receber um depósito de conteúdo pronto isoladamente em nossas casas, gerenciando nossos próprios problemas de aprendizado usando ferramentas monopolizadas por empresas, sem buscar alternativas para a promoção de igualdade e solidariedade nesse processo. Isso não é educação a distância, mas tão somente distância: ficamos cada vez mais longes do mundo que deveríamos estar construindo no rastro de destruição que a pandemia deixa no tecido social.