Lucro indo para os bancos e prejuízo para os pobres. A degradação das condições de vida representada pelo aumento dos preços e pelo aprofundamento da violência de Estado segue a passos largos liquidando as possibilidades de sobrevivência e vida digna do povo brasileiro, deixando o viver mais difícil a cada dia.
Descendo no buraco desde pelo menos 2011, os ricos puxam a economia brasileira em sua queda, que vai chegando ao fundo do poço cada vez mais rápido agora com o problema do corona vírus. Como podemos ver, da maneira que é recorrente na história do capitalismo, o Estado agora surge para lançar a corda até o fundo do poço para salvar apenas a burguesia parasitária, mostrando que o “Estado mínimo” defendido pelos liberais, é para os pobres apenas. Enquanto isso, nós, os de baixo, continuaremos a sobreviver (ou morrer) no fundo deste poço; vendo cada vez mais a corda de nossa salvação para uma vida digna sendo cortada pelo mesmo Estado.
Saiamos agora do campo das metáforas e olhemos para a realidade concreta. Em poucos dias de crise, sem nenhum tipo de hesitação, a equipe econômica do governo Bolsonaro liberou cerca de 1,2 trilhões de reais, o equivalente a 16,7% do PIB (1), para as instituições financeiras (no Brasil, basicamente: Itaú, Bradesco e Santander). Segundo o presidente do Banco Central, essa medida tinha como objetivo “injetar liquidez” e “fazer caixa” para essas instituições. Ainda assim, o fato mais desumano e cruel dessa medida não se apresenta nela em si mesma, mas sim na não exigência de nenhum tipo de contrapartida social por esses sanguessugas, isto é, na não exigência de qualquer medida de afrouxamento de cobrança de juros e renegociação da dívida, para população mais pobre e endividada (segundo pesquisa realizada em dezembro de 2019, o percentual de famílias endividadas no Brasil bateu recorde com 66% ) (2), por exemplo. A corda lançada aos banqueiros nunca esteve tão firme e resistente.
Por outro lado, quando o assunto é salvar o povo e tirá-lo da miséria, Bolsonaro parece adormecer em berço esplêndido. Foi assim durante quase 30 anos de vida política, não seria diferente agora no cargo mais importante do país. O que mudou é que agora ele adormece junto de Guedes, Moro e companhia.
Após ter sido duramente criticado pela ridícula medida de apoio de 200 reais para trabalhadores autônomos e informais, a equipe econômica do governo se viu colocada contra a parede devido a diversas a reações pelo país a fora tendo que recuar e aceitar a proposta criada pela oposição (a rigor esse valor foi de uma proposta do Major Vitor Hugo do PSL), na qual aumentava em até 1200 reais tal remuneração (3). Entretanto, mesmo com as duras críticas recebidas, o governo não deixou de mostrar sua perversidade e vetou o trecho que ampliava o auxílio para 600 reais aos que tem acesso ao Benefício de Prestação Continuada (idosos e deficientes pobres – 4). O povo, agora, vê sua corda sendo cortada pelo mesmo Estado que salvou os banqueiros multibilionários.
E mesmo que os 600 ou 1200 reais sejam bem vindos e resolvam parcialmente o nosso problema da fome, ainda é pouco, não podemos cair na armadilha de comemorar esse valor como uma grande vitória, pois na prática ele significará que os trabalhadores e as trabalhadoras informais tenham que continuar se arriscando em ônibus lotado, nos bicos, a limpar casa de outras pessoas, vender coisas em trens e sinais, em poucas palavras: continuar se virando para colocar pão em casa! Quarentena tem que ser um direito e não uma obrigação e para garantir esse direito 1200 ou 600 reais não bastam, exigimos o salário minimo necessário calculado pelo DIEESE que leva em conta quanto uma família de 4 pessoas precisa para ter uma vida digna ao longo de um mês, que no mês de março/2020 estava em R$ 4.483,20, que se pago aos 40 milhões de desempregados por 3 meses daria apenas 45% do valor pago aos bancos de uma só vez.
Lucro indo para os bancos e prejuízo para os pobres.
Ainda em comparação com a ajuda as instituições financeiras, o “coronavoucher” aprovado de 600 ou 1200 reais representará para os cofres públicos cerca de 98 bilhões, isto é, apenas 1,3% do PIB enquanto aos bancos foi repassado 16,7%, como dissemos anteriormente. Além dessa absurda desproporção, o governo não para por aí. Chegaremos a quase um mês de crise pelo corona vírus e Bolsonaro e sua equipe ainda não possuem um projeto robusto e de peso que não apenas proteja os empregos atuais, mas crie novos postos de empregos para desempregados e crie também direitos para trabalhadores que estão na mão do setor informal, como as multinacionais de aplicativos (Uber, Ifood, Rappi e etc), empresas de cosméticos (revendedoras), domésticas, vendedores ambulantes etc.
O que o governo apresentou e usou de chantagem para aprovação do coronavoucher foi um projeto apelidado de PEC do Orçamento de Guerra. O que o governo não diz é contra quem é essa guerra. Enganam-se os que acham que é contra o coronavírus, essa guerra é contra os trabalhadores e as trabalhadoras, é contra os serviços públicos, é contra o povo, pois o projeto determina que o dinheiro que vai para os programas sociais possa ser usado para pagamento de dívida, que poderá crescer indefinidamente esse ano, e sabe para quem esse dinheiro acaba indo quando paga a dívida? Itaú, Bradesco e Santander, os mesmos bancos que já levaram R$ 1,2 trilhão dos cofres públicos. O projeto permite também que o Banco Central compre títulos podres desses bancos, o que significa em outras palavras, comprar as ações furadas e garantir que os prejuízos sejam arcados pelo nosso dinheiro público.
Lucro indo para os bancos e prejuízo para os pobres.
Esse projeto se seguiu a outros tão ruins quanto, que permitem suspensão e redução salarial, “negociação” direta entre patrão e trabalhador e estabelecimento de banco de dados com ampliação da jornada de trabalho em 2 horas quando do retorno das atividades.
Nada disso vai resolver nosso problema, pois os preços não param de subir e o governo não garante nossos direitos, pelo contrário, retiram cada vez mais e entregam no máximo uns poucos reais.
Para resolver nosso problema exigimos:
Recontratação imediata dos demitidos, com pagamento de salários garantidos pelo governo!
Abertura de novos postos de trabalho formais com garantias de direitos imediatamente após o controle da pandemia!
Suspensão e redução de mensalidades de universidades privadas!
Garantia de um auxílio emergencial que nos garanta a vida digna!
Assinam essa nota conjuntamente :
Resistência Popular Estudantil – Rio de Janeiro
Resistência Popular Estudantil – Marília
Resistência Popular Estudantil – Floripa
Fontes usadas no texto:
2 – https://www.ocafezinho.com/2020/01/09/66-dos-brasileiros-estao-endividados-recorde-no-pais/
4 – https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/04/02/bolsonaro-beneficio-600-reais.htm