Não era novidade para ninguém que nos submetermos à um isolamento social traria consequências psicológicas para todos. Nas primeiras semanas de quarentena já era possível ver posts na internet de tom jocoso que sugeriam que no décimo dia de quarentena já estaríamos fora de nós mesmos. Tudo isso não é por o acaso; nascidos em uma sociedade em que somos serventes do mercado, portanto, da produção constante, a sensação de estarmos presos em casa, sozinhos, ou mesmo com outras (poucas) pessoas (família, amigos, companheiros), até nossos hobbies se tornam motivos de auto cobrança, pois não estamos fazendo “nada”, sem poder viver nossa vida ordinária, ou momentos de lazer com colegas – o que já parecia motivo de alarme para grande parte da população.
Imagine então uma situação piorada, que é a que a camada popular brasileira se encontra atualmente, em que não só perdemos as atividades e tarefas no exterior de nossas casas, mas estamos a beira de um colapso, com o aumento do desemprego, trabalhadores tendo que furar a quarentena para garantir seu sustento, estudantes sem o amparo devido da universidade – em sua maioria sendo obrigados a fazer atividades avaliativas à distância mesmo sem acesso à internet ou com problemas de saúde na família, com um presidente e governadores que ao invés de diminuir a perda de vidas preferem diminuir a perda de lucro das empresas, com os preços do mercado aumentando já que existe alta procura e baixa produção – e o preço tem que subir para conservar o lucro (mais uma vez o lucro à frente da vida), com moradores sem informação de como se prevenir – utilizando mascará, álcool em gel e papel higiênico (?) de forma indevida, com uma parte dos cidadãos se baseando em calúnias e notícias falsas sobre o corona vírus, e a eterna sensação de olhar pela janela sem saber quando ou, até mesmo, se as coisas voltarão à ser como antes. Sem contar outras situações mais precárias, como por exemplo; pessoas que nem onde morar tem para poder realizar a quarentena. E ai, como fica o Brasil?
Antes de todo esse caos nos atormentar, quantos de nós já não tínhamos sofrido, ou já sofríamos de ansiedade e depressão?! Podemos dizer que o século XXI é o século em que estes transtornos crescem a cada segundo. Junto com esse fator, vemos crescer também a patologização da vida, que comprime os problemas sociais, coletivos e do Estado ao indivíduo; como dizer que o que estamos vivenciando em relação à pandemia, desde o contágio do COVID-19, até os problemas de saúde mental se potencializando, não se refere também, até certa perspectiva, à essa crise social que estamos vivenciando, isentando o aspecto político dessa abordagem.
Não podemos perder de vista todos esses apontamentos e principalmente ter a compreensão de que companheiros e companheiras que estão na luta também estão aptos de sofrer e ter crises psicológicas por conta da conjuntura atual e problemas pessoais, desde de sua vida privada, tendo que suportar a quarentena (que como já dito, para a camada popular a vida em isolamento social adquire outro caráter), até aqueles que não tem condições de se manter em isolados por conta de emprego (dobrando os riscos de contágio e o desespero em torno de toda essa calamidade).
Por isso ressaltamos a importância de construirmos redes de apoio mútuo e solidariedade entre nós, desde grupos para realizar atividades de lazer à distancia para ajudar os companheiros e companheiras à se recompor, até redes para arrecadar alimento e utensílios básicos a aqueles que não estão conseguindo se manter financeiramente. Precisamos urgentemente estar ao lado dos explorados, acompanhando-os e auxíliando-os à levantar e permanecer em luta.
SOLIDARIEDADE E APOIO MÚTUO NO ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA!
Resistência Popular Estudantil – Floripa
Resistência Popular Estudantil – Marília
Resistência Popular Estudantil – RJ